domingo, 20 de novembro de 2011

20 de Agosto - Dia de São Bernardo








Vinte de agosto, dia em que se comemora a festa de São Bernardo de Claraval. Na sequência, apresentamos uma pequena biografia do grande santo da Ordem Cisterciense. O texto foi traduzido pelo Dom Abade Edmilson Amador Caetano, O Cist., da Abadia Nossa Senhora de São Bernardo do original em italiano Ordie Cistercense - Nono Centenario dalla Fondazione, 1098-1998.



Roberto, Alberico e Estevão estão na origem da aventura cisterciense, definindo-lhe o espírito e a estrutura. Contudo, a Ordem Cisterciense não teria se tornado o que é, se não tivesse existido a influência genial de uma quarta personalidade - figura emblemática de seu tempo: Bernardo de Clairvaux.
A última biografia crítica de São Bernardo é do século passado.


(1) O fato de ninguém ter realizado uma nova biografia científica de São Bernardo, mostra como é difícil este trabalho.
Isso nos dá uma idéia da grandeza do personagem e da amplitude da sua ação: tudo isso parece desencorajar os autores a realizarem esse trabalho.




Por outro lado, dispõe-se, hoje, de uma notável edição crítica das suas obras, graças a D. Jean Leclercq (+1989), personagem-chave dos estudos bernardinos contemporâneos. (2) Fruto exemplar e típico da sociedade feudal do seu tempo, ligado a uma vasta florescência de alianças familiares, Bernardo soube fazer de tudo isso a base da sua ação, seja no momento da sua entrada em Cîteaux, como em seguida.




Uma formação tradicional e puramente literária permitiu-lhe conquistar, logo cedo, uma grande pureza de estilo e, sobretudo, um excelente conhecimento dos Padres da Igreja.



Nascido em 1090, já em 1110 teria tomado em consideração o projeto de entrar em Cîteaux, projeto que realizou em 1113, chegando no mosteiro com trinta companheiros. O abade Estevão Ardem acolheu com alegria este grupo e soube discernir a riqueza da personalidade de Bernardo e nele confiar, ainda que, sob muitos aspectos, descobriu-se entre eles uma notável diferença de temperamento. Em uma primeira abordagem desta diferença, pode-se notar que enquanto para Estevão a estética está mais sobre a ordem do visível, das artes plásticas (como demonstram os manuscritos com iluminuras que datam do seu abaciado), para Bernardo a estética é mais aquela do ouvido e da voz, aquela da música, da escuta, essencialmente escuta da Palavra de Deus, a escuta do Verbo de Deus que se dirige ao monge, ao qual não é permitido distrair-se.



Bernardo constrói sobre os ideais e sobre os fundamentos essenciais dados por Estevão: fidelidade à Regra, simplicidade, pobreza e, sobretudo, a caridade.



Seguindo o seu exemplo, de modo especial no que diz respeito à pobreza, os cistercienses estabeleceram-se em "desertos", onde realizam um duro trabalho manual que é suficiente para o seu sustento e permite também vir ao encontro dos necessitados. Conhecem um despojamento que os aproxima daquele de Jesus Cristo e dos apóstolos. Rejeitam o sistema social da época, renunciam aos dízimos e feudos que vêm daqueles que têm autoridade feudal e, do mesmo modo, não aceitam os "benefícios" que poderiam ser propostos pelos homens da Igreja. Com a ideia da igualdade, no mosteiro, não se faz mais caso da origem social dos monges; todos vivem do mesmo modo. No que diz respeito ao abade, inclusive ao abade de Cîteaux, encontram-se todos no Capítulo Geral no mesmo nível. A simplicidade de vida aparece nos hábitos, nas construções realizadas com linhas geométricas "limpas", estilo despojado, sem decorações. A espiritualidade não está dirigida a uma elite, mas a seres humanos de carne, permeados profundamente do desejo de converter-se. Este quadro estaria incompleto se não se fizesse menção do culto à Virgem das Dores e da Ternura, pronta para socorrer as mais diversas angústias, como para suscitar o respeito da mulher, em uma sociedade bastante violenta.



O prestígio pessoal de Bernardo, o seu poder de convencer fazem crescer continuamente a sua influência na Ordem, na Igreja e no mundo. Esta influência é exercitada em duas linhas principais: antes de tudo, a consolidação da Ordem Cisterciense e o reconhecimento da excelência da sua observância; e depois, a Reforma da Igreja.



Em 1115, Bernardo foi enviado com um grupo de monges para fundar Clairvaux e aí passa toda a sua vida como abade, renunciando a qualquer outra dignidade eclesial.



Em 1118, Clairvaux funda a sua primeira casa-filha e durante trinta anos o ritmo das fundações é de dois mosteiros por ano, através de toda cristandade ocidental, com exceção da Europa Central.




À sua morte, em 1153, a Ordem de Cîteaux conta com 345 mosteiros, dos quais 167 são filiações de Clairvaux, fundações ou mosteiros que pedem para serem incorporados à Ordem.



O ano de 1130 é uma data-chave para a vida de Bernardo: até agora tinha se consagrado somente à vida da sua comunidade e da sua Ordem, agora entra de modo ativo e decisivo na vida da Igreja, ajudando a resolver situações de crise que deriva da dúplice eleição de Inocêncio II e de Anacleto II, situação que provoca um cisma que durou oito anos e que foi ocasião das primeiras viagens de Bernardo à Itália.



Em 1140, intervém contra os erros de Abelardo.



Em 1145, percorre o Languedoc para pôr fim aos erros hereges.




Em 1147, o papa Eugênio III (3), que tinha sido abade cisterciense de Tre Fontane (Roma), dá-lhe a missão de pregar a 2.ª Cruzada, que foi um fracasso, do qual ele se considerou responsável.



Em 1150, sob a insistência de Suger, abade de S. Denis, tenta, em vão, convencer Eugênio III de retomar a Cruzada.



Na primavera de 1153, inicia uma última viagem à Lorena, retorna a Clairvaux, onde recebe a notícia da morte de Eugênio III e morre também ele a 20 de agosto do mesmo ano.



Em 1163, o seu culto é introduzido em Clairvaux e em 1174 o papa Alexandre III o canoniza.



Este elenco de datas é somente o aspecto externo da vida de Bernardo, pois no mesmo período produz uma atividade literária considerável - é o maior escritor do seu tempo - apesar do seu estado de saúde sempre precário em virtude das austeridades que se impôs.



É impossível, em poucas linhas, focalizar a obra de São Bernardo e a sua originalidade. Digamos somente que Bernardo, como todos os outros autores cistercienses do seu tempo, cantou o amor, o amor de Deus pelo homem e o amor do homem por Deus. Um amor que é fonte de verdadeiro conhecimento - é sobre este ponto que ele diverge de Abelardo e da teologia escolástica nascente - um amor nupcial entre Deus e aquele, aquela que sabe estar na escuta dele. E é esta mensagem que falou ao coração de tantos homens e mulheres do seu século e povoou numerosos mosteiros.



Notas:



(1) E. VACANDARD. Vie de Saint Bernard. 2 volumes, Paris, 1895. Para uma orientação bibliográfica sobre São Bernardo, cf. P. ZERBI, Bernardo di Chiaravalle, in, Biblioteca Sanctorum, III, Roma, 1963, col. 31-37. Para uma apresentação geral da vida e da obra de São Bernardo, pode-se consultar: J. LECLERCQ, San Bernardo e lo Spirito cistercense, Turim, 1976; J. LECLERCQ, Opere di San Bernardo, aos cuidados de Ferruccio Gastaldelli, Milão, 1984, volume I, Introdução geral, pp. XI-LXI.



(2) J. LECLERCQ et H. ROCHAIS. Sancti Bernardi Opera. 9 volumes, Roma, 1957-1977.



(3) O mosteiro de Tre Fontane tornou-se cisterciense em 1140. Bernardo dedicará ao papa Eugênio III o Tratado De Consideratione
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